Opinião
Brasil, o país das apostas
Por João Carlos M. Madail
Economista, Professor, Pesquisador e Diretor da ACP
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Os brasileiros tendem a apostar em vários tipos de jogos, com mais frequência do que os demais apostadores globais. Segundo dados do YouGov Gambling Profiles, 30,8% dos consumidores brasileiros afirmam apostar pelo menos uma vez por mês, um número acima da média de 25,1% entre os 24 mercados internacionais pesquisados pela plataforma. O Brasil também é um dos países onde a maioria das pessoas joga todos os dias (5,2% dizem que o fazem com essa freqüência), atrás apenas da África do Sul e da índia. Entre os mercados de apostas existentes no Brasil os esportivos se destacam pelo número de empresas.
Atualmente, são quase 500 empresas operando no território nacional. A atividade é legalizada há três anos, mas uma legislação precária faz com que as empresas operem com sede no exterior. Por aqui elas movimentam em torno de R$ 12 bilhões anualmente e patrocinam 19 dos 20 clubes de futebol mais importantes das ligas brasileiras.
Nos últimos anos, talvez por influência da pandemia, muitas pessoas começaram a apostar dinheiro em resultados de partidas de esportes acreditando na sorte para ganhar dinheiro fácil, sem a preocupação que esta prática poderia lhes trazer maiores consequências. Afinal, as redes sociais facilitam a vida dos apostadores e lhes prometem bom retorno financeiro, inclusive, são amplamente divulgados por influencers preparados para tal. O governo brasileiro contribuiu para o crescimento das empresas de apostas desde 2018, durante o governo de Michel Temer, quando foi aprovada a lei das apostas. A partir daí a oferta de sites de apostas esportivas, chamadas "bets", passou a dominar a grade das TVs abertas, sobretudo em jogos de futebol. Além disso, as redes sociais também foram inundadas de anúncios de jogos de apostas não só no resultado final dos jogos, mas com inúmeras alternativas para atrair ainda mais o apostador.
Durante o governo Jair Bolsonaro se pensou em regulamentar o funcionamento dessas empresas no Brasil, mas isso não foi feito e elas continuam atuando por aqui e em vários outros países onde o registro é legalizado. Segundo dados divulgados pelo Banco Central do Brasil, mostraram que 7,1 bilhões de dólares voltaram ao Brasil entre janeiro e novembro de 2023. O valor equivale a cerca de R$ 34,5 bilhões em prêmios recebidos pelos apostadores que residem no território nacional. Não há dúvida sobre a popularidade dos sites de apostas esportivas no Brasil. No entanto, foi no ano de 2019 que as atividades relacionadas ao segmento cresceram incríveis 281%, totalizando dois bilhões de minutos consumidos pelos brasileiros por mês. Com uma base de 42,5 milhões de usuários, esse fenômeno digital atinge cerca de 30% da população "online" do País. A maioria dos consumidores de apostas (aproximadamente 80%) faz suas apostas exclusivamente por meio de dispositivos móveis, o que reforça o uso popular dos smartphones pelos brasileiros.
Ao analisar o perfil dos usuários brasileiros, apontou que 49% fazem parte da classe C, reforçando que apostar é uma prática que tem se tornado acessível, inclusive às camadas socioeconômicas menos favorecidas. Também está provado que a maioria dos apostadores são homens 61% onde grande parte ultrapassou os 45 anos de idade. Todo apostador tem a esperança que a sua aposta seja vencedora e lhe traga recompensas muito superiores ao valor apostado. Entretanto, a frustração em jogos de apostas também tem um impacto considerável na mente humana. A perda pode provocar uma resposta emocional negativa, que pode levar a um desejo de recuperar o que foi perdido, criando um ciclo vicioso que pode ser difícil de resolver. Mesmo que existam outras modalidades de apostas, cabe lembrar que, em razão da proibição feita durante o governo Dutra, o Brasil não permite a prática de jogos de azar em espaços públicos ou acessíveis ao público.
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